segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Romanticamente incomum

          


          Deitada aqui, no meio da noite, acabei me perdendo em um mar de pensamentos sobre nós. Que curioso, depois de tanto tempo, eu pensando em nós. Não mais em você, não mais em mim. Em nós.
          Me dei conta de como a vida é irônica, pois durante muito tempo estive certa de que nunca mais cairia nesse seu olhar irritantemente cativante e nesse sorriso ridiculamente carismático. Agora olha só pra mim, deitada nessa cama, embrenhada nesses lençóis com o seu cheiro, outra vez me perdendo entre seus braços.
          Nós dois outra vez. Mas por que? Talvez porque nunca nos despedimos, de fato. Nunca houve um adeus. No lugar do ponto, ficou reticências. E a história ficou incompleta.
          Nós fomos felizes nesses anos, eu sei. Eu sobrevivi sem você e você sem mim. E o engraçado foi isso: mesmo sabendo que era possível viver sem o outro, nos buscamos de novo, escolhemos um ao outro e não foi por acaso. Foi uma escolha.
          E o povo vai comemorar com a gente a cada vez que a gente passar sorrindo de mãos dadas. E pode uns ou outros criticarem. Mas nós estamos sempre ocupados com a nossa felicidade e que sejam bem vindos aqueles que quiserem celebrar com a gente. E o que não vem pro bem a gente não dá a mínima. E ninguém vai entender como a gente faz pra ser tão feliz, mas eu também não saberia explicar.
          O que eu sei é que esses anos te fizeram muito bem. Fisicamente, pode ser. Mas principalmente, te fez uma pessoa melhor. A vida precisou te dar uma surra pra você perceber que existe uma maneira mais leve de passar pelas coisas. Agora você tem sido tudo aquilo faltou. Agora você é o que havia antes de melhor em você, somado ao homem com diversas novas qualidades.
          Olha só pra você, não passa um dia sem sorrir, sem sentir essa alegria que nos tomou desde que nos reencontramos. Aliás, desde que você buscou me reencontrar. Essa é a parte mais romântica da história. O modo como você insistiu em ter minha companhia mesmo depois de tanto tempo afastados. O modo como foi sincero. Os olhares, os carinhos, os beijos... explicitamente verdadeiros.
          Por algum tempo eu percebi o medo que você sentia de tudo se desfazer novamente, da vida dar um jeito de nos separar outra vez. Você me abraçava tão forte como se quisesse garantir que eu não iria mais ir embora. Ah... você não sabia, o que me fazia ficar cada vez mais não era a força com que me abraçava, mas a sinceridade de cada gesto de carinho. Era aquele olhar bobo cada vez que eu retornava, como se você não acreditasse que eu estava ali de novo por você.
          E quanto mais nos reencontrávamos, mais se apagava qualquer lembrança nossa que não fosse boa. Cada erro do passado era esquecido. Ali e naquele momento, éramos novas pessoas, diferentes, melhoradas e principalmente, dispostas.
          Foi a partir daí que começamos a escrever nossa história e por mais que os meses tenham passado rapidamente, ainda posso sentir que esse é o começo, que nessa história ainda tem muito o que acontecer. E há quem julgue nossa história nada comum, devem dizer que somos loucos. Mas quer saber de uma coisa? Eu nunca gostei do "Era uma vez" e nem das princesas de contos de fadas. Eu gosto mesmo do incomum, do diferente, do raro. Porque de princesas e "Era uma vez" o mundo já está cheio. Eu quero ser parceira, eu quero um "É nossa vez", porque essa é a Nossa História, essa é a nossa particularidade e é assim mesmo que nós somos felizes.

Fernanda Salgado