quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Um dia perfeito

    

       Estávamos no carro naquele dia lindo e bem quente, exatamente como gostamos. No banco de trás, nossas malas, nossos travesseiros e uma coberta que provavelmente não usaríamos. No rádio uma música que fazia lembrar de quando nos conhecemos.
    Ele dirigia com um sorriso no rosto e com uma calma de que quem não tem pressa para que o dia acabe.
Agora sim seus óculos escuros o deixava ainda mais charmoso, e o vento quente que entrava pelas janelas abertas despenteava seus cabelos divertidamente.
    Eu sabia que a viagem seria longa, mas não me preocupava, pois ainda era manhã e o sol brilhante mostrava toda a paisagem encantadora que nos cercava.
    Ele ainda me contava algumas de suas divertidas histórias e muitas vezes relembrava algumas em que eu estava presente. A partir de agora eu também  faria parte das suas histórias, e estava contente com isso. 
    Ao chegar no local planejado, me deparei com aquele mar azul claro, a areia bem alva e fina, e o sol ainda estava ali, clareando todo aquele céu azul que nos cobria.
    Nos banhamos naquelas águas cristalinas, confidenciamos segredos na sombra de uma árvore e fizemos promessas olhando o sol se pôr em um céu escarlate. Até que a noite caiu.
    Ele me conduziu até uma clareira no topo de uma montanha, onde era possível observar milhões de estrelas no céu e, por vezes, algumas estrelas cadentes. Eu deitada em seu peito, contemplava um céu jamais visto em nossa cidade, enquanto ouvia musicalmente as batidas do seu coração.
    Em um momento tão utópico, ele me deu o que faltava. Um beijo.
    Foi nessa hora que acordei.
    Olhei ao meu redor e o procurei sem resultado. Percebi as paredes de concreto e o cheiro característico de uma cidade urbana. O relógio ainda despertava e eu, um tanto confusa, o fiz parar de tocar. O seu óculos não estava no criado mudo, nem o seu chinelo na beira da cama. Só então percebi o que havia acontecido.
    Me levantei, me arrumei e fui para o trabalho arrastando os pés. 
    Foi um lindo sonho, quis contar a ele.
    Pena que ele não está mais aqui.

Fernanda Salgado

Em você, não mudo nada.

       
          Se eu fosse escolher pela aparência, ah... não seria você.
    Pois aquela camiseta velha e com um furo no ombro nunca foi a mais sensual. Até aquele seu jeans surrado que você insiste em usar mesmo estando grande demais, não é dos mais atraentes. E se eu for falar do cabelo, quase sempre bagunçado.
    Mas não, não foi isso que me atraiu.
    O que me atrai é o que está debaixo disso, debaixo também dessa armadura que você veste por insegurança. É a personalidade, é o instinto protetor, a coragem, a inocência... E debaixo desse cabelo bagunçado, a mente genial.
    Depois que vi esse interior, te vi diferente, passei a te admirar. E logo, quando percebeu tal admiração, notei que trocou a camiseta velha por outra mais nova, que passou a usar cintos, calças do seu número e cortou os cabelos.
    Achei graça.
    Pois eu confesso que passei a gostar daquela camiseta com o furinho e até senti falta de te ver arrumar o jeans caindo.
    Pode saber, meu bem, que se te escolhi é pelo que tu és e digo mais, eu não mudaria nada em ti. Nem a velha camiseta, nem o jeans surrado, nem mesmo o cabelo bagunçado, que é, na verdade, o penteado que eu mais gosto.

Fernanda Salgado

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Saudade sua



   Desde que você se foi, o tempo não quer mais passar. Parece que depois de você tudo perdeu a graça e os dias passam arrastados.
   Ah, se eu pudesse escolher... Eu acordaria às cinco da manhã outras mil vezes só para acordar do seu lado. Te observar se arrumando para a faculdade seria o meu maior hobbie.
   Se você estivesse aqui, eu usaria mais vezes o meu cabelo de lado, eu faria aquela comida que te prometi e usaria aquele perfume que você adora.
   E se eu estivesse aí, eu não ligaria de arrumar o tapete todas as vezes que você bagunçasse, eu aprenderia uma música nova só pra cantar com você e faria uma massagem pra você dormir.
   Me pego às vezes olhando nossa fotos, lembrando dos seus olhos, que eu garanto, têm uma cor maravilhosamente incomum. Sinto uma leve nostalgia quando lembro do seu cheiro, do seu olhar concentrado ao usar o computador e do seu sorriso, que tinha o poder de me deixar feliz.
   Te asseguro que não sofro, mas diariamente lembro-me daqueles dias com carinho, o mesmo carinho que sinto por ti, uma pessoa com quem eu não sei esbravejar.
   Por curiosidade, eu ainda me pergunto, por quanto tempo ainda ficou o meu cheiro naquela tua camiseta? Me pergunto, quantas vezes você encontrou um fio de cabelo meu no seu travesseiro e se lembrou de mim? O que será que você fez com as  nossas fotos? E o que será que você fez comigo, aí dentro, no mais profundo sigilo, dentro de você?
Fernanda Salgado