quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Ela entendeu


          Ela se sentiu mal. Por vezes até chorou pensando que não encontraria mais a felicidade. Tudo por conta de um desamor. Um desamor de um sentimento que nem sequer foi amor. Olhava as fotos e se lembrava de algo que a fez sorrir junto a ele. Todo fim é triste, dá para entender. Mas todo fim é sim um recomeço, e toda decepção é uma lição.
          Ela entendeu o fim. Ela aceitou o fim. Ela esqueceu que era fim e passou a pensar que era recomeço.
          Ela acordou mais cedo, tirou aquele pijama velho, tomou um banho demorado, abriu as janelas da casa e deixou entrar novos ares. Ela cuidou da pele, dos cabelos e das unhas. Se sentiu importante outra vez e sentiu vontade de viver. Ouviu músicas que só faziam lembrar coisas divertidas, apagou as mensagens e as fotos do celular, e dessa vez fez sem dó.
         Ela cuidou do lado de dentro, limpou as coisas impuras do coração, jogou fora as lembranças de uma vida que não mais existia.
          Ela colocou os pés na rua se sentindo tão livre e tão leve quanto a brisa que bagunçava seus cabelos, sorriu sem ter motivo e caminhou sem um destino certo pra que seus pés decidissem o caminho.
          Ela o encontrou. Ela sorriu pra ele. Ele perdeu o ar. Ela respirou fundo e seguiu caminhando.
          Ele a observou seguir em frente. Ela não olhou para trás. 
Com um sorriso discreto no canto da boca, ela soube: havia mesmo superado.

Fernanda Salgado.




domingo, 11 de agosto de 2013

Sua solidão





Ingênuo. Você nada sabe sobre a vida ainda.
Não conhece valores que não são materiais, não sabe a diferença entre menina e mulher, não sabe o valor que tem um homem de palavra. Não sabe sequer o que te faz bem de verdade. 
Precisa olhar pra vida, aprender com erros. Precisa crescer.
Um dia vai ver quanto tempo perdeu com tal ignorância. Ainda vai descobrir que muitas das suas experiências de vida não servem para nada, a não ser pra contar vantagem.
Se não há uma multidão ao seu redor, se não tem platéia para o seu exibicionismo, se sente sozinho.
Mas você vai descobrir que solidão não é ficar sem ninguém. Solidão é ter milhares de pessoas e sentir tristeza por querer justo aquela que não se pode ter.

Fernanda Salgado.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

E então?



Beijava minha boca,
tirava minha roupa,
tirava meu fôlego,
tirou meu sono,
tirou meu sossego.

Compartilhamos 
sorrisos,
abraços,
amassos,
camas,
copos,
corpos.

Sei da sua solidão
mesmo entre a multidão,
a falta que te faço,
a saudade,
e o orgulho.

Estive com você no lazer,
no prazer,
no pranto,
entretanto,
cadê você?

Fernanda Salgado

terça-feira, 23 de julho de 2013

Muito obrigada

Queria poder dizer a ele o bem que me fez, mesmo quando me fez mal. De cada erro que ele cometeu, tirei uma lição para mim.
Pelas vezes que ouvi suas ofensas, aprendi a não ofender ninguém;

Pelas vezes que ele me ignorou, aprendi a dar atenção às pessoas;
Pelas vezes que ele perdeu a paciência, aprendi a ter calma;
Pelas vezes que ele demorou a vir, aprendi a esperar;
Pelas vezes que me deixou sozinha, aprendi a ser companheira;
Pelas vezes que ele me criticou, aprendi a elogiar;

Pelas vezes que ele me interrompeu, aprendi a escutar;
Pelas vezes que mentiu, aprendi a dizer sempre a verdade;
Pelas vezes que disse gostar de mim, aprendi a não acreditar em tudo o que me dizem;
Pelas vezes que me culpou, aprendi a ser justa;
Pelas vezes que ele foi orgulhoso, aprendi a ser humilde;
Por cada uma das vezes em que ele me fez sofrer, aprendi que devo cuidar dos sentimentos das pessoas, e me manter longe daqueles que não sabem cuidar dos meus.
Então é bom que ele não sinta pena de mim, pois hoje sei coisas que ele nunca aprendeu. E eu até diria "muito obrigada", porque além disso tudo, me tornei ainda mais forte.


Fernanda Salgado.



quinta-feira, 18 de julho de 2013

Seu mistério

Olhei pra você, agora cansado, o olhar perdido, o rosto molhado. No rádio toca uma música que eu odeio e você canta um pedaço. Lembro do quanto você me incomoda sem saber. Olho no relógio, ta na hora de ir embora. Como se tivesse lido meus pensamentos, você retira o braço debaixo da minha cabeça com cuidado e se levanta. Sinto no ar o cheiro do seu perfume misturado ao cheiro da sua pele e da sua roupa limpa, a mistura mais nociva dos últimos meses. Sem vontade busco minhas coisas. Te olho mais uma vez e, como de costume, você está se olhando no espelho. Acho graça e sorrio sem que você perceba. No carro, toca uma música que eu adoro e você muda. Seus óculos escuros não me deixam ver seus olhos, uma das coisas que eu mais gosto em você. Fico quieta. Percebo sua concentração ao dirigir e a sua incansável mania de nunca colocar as duas mãos no volante. Então chega o momento em que eu deveria descer, te olho tentando te interpretar. Conheço esse olhar, ta querendo um beijo. Te beijo. Mais uma vez você sorri pra mim, um sorriso que diz "te vejo em breve". Não é meu preferido. Antes o sorriso da chegada do que o da despedida. Entro em casa arrastando os pés e me jogo no sofá já pensando no próximo dia que vou te ver.
Me incomoda. Me incomoda pensar em você. Pensar que não sei quando vou te ver outra vez. Pensar que não sei se ainda vou te ver outra vez.

Fernanda salgado.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Nosso fim

     A música estava alta e eu não notava mais ninguém ao redor. Eu olhava pra você e reparava na sua maneira de dançar despreocupado. Você me olhava, sorria pra mim e eu podia ver a felicidade em seus olhos. Não me importei que pedisse mais uma bebida, sua felicidade me fazia feliz. Você dançava comigo, me abraçava, me beijava... Minha alegria em estar com você estava sendo correspondida.
     Sorrisos e fotos desse dia continuam guardados como prova de que esse dia existiu. Depois do que houve dois dias depois, mesmo para mim era quase impossível de acreditar que tudo aquilo tivesse acontecido.
     Naquela noite te olhei dormir e você sorria. Mesmo dormindo me abraçou e entrelaçou suas pernas nas minhas. Me senti segura, parecia que nada de ruim poderia acontecer.
     Então, dois dias se passaram e eu não pude te ver dormir. Como te conheço, sei que dormiu e acordou na mesma posição, que acordou e olhou seu celular. Sei que você sabe que eu não merecia tal reprovação.
     E você vai procurar meu beijo em outras bocas, vai ouvir nossa música e sentir uma saudade, vai pensar em me ligar... E eu não vou estar te esperando, porque a vida segue. Mas eu vou estar torcendo para que você encontre alguém que também não se importe com tudo o que você já fez, que te permita fazer o que quiser, que curta qualquer música que você goste e que te acompanhe pra onde você for com o maior entusiasmo possível.
     Também espero que esse alguém salve a sua vida, pois eu salvaria mais mil vezes se eu pudesse estar lá de novo.
     Um dia vai querer alguém para estar junto, vai lembrar de quem eu era e vai ver que não te faltou nada. Exceto maturidade.

Fernanda Salgado.

Aquelas mãos

Essas mãos grandes são as que me acariciam até que eu durma. São elas que me dominam, que me conduzem,  me arrastam. São elas que me protegem e que me seguram quando estou prestes a cair. São elas que me levantam, que acariciam meu cabelo, que deslizam meu corpo, que me arrepiam... São mãos confortáveis, firmes e confiáveis. De repente tudo se fez melhor segurando suas mãos.
Embora essas mãos grandes não sejam minhas, por sorte, as tenho.

Fernanda Salgado.