quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Em memória


          Abri meus olhos. Olhei o relógio. Pensei: o que houve? Cadê ele? Será que aquilo tudo era verdade?
          Lágrimas rolaram do meu rosto involuntariamente ao perceber que era tudo verdade. Levantei da cama e vesti qualquer uma de minhas roupas, enquanto flashes de saudade invadiam meu pensamento.
          Como não lembrar do primeiro dia? Do primeiro olhar seu para mim? Como não lembrar do sorriso tão natural, tão sincero que se abria com tanta facilidade? E como não imaginar seus braços outra vez na minha direção me pedindo afeto? Como não me lembrar da última vez que te abracei sem saber que era a última? E como não me afogar nesse mar de lembranças?
          Agora você deixou preto e branco o mundo que você mesmo coloriu quando chegou. Agora todos os planos que eu fiz pra realizarmos juntos foram tirados de mim. E no lugar deles ficaram os espinhos que nasceram no momento em que você partiu. Mas eu não te culpo por isso, meu anjo.
          Me pego pensando em quantas mil vezes você me fez sorrir, me deu felicidade. E todos os sorrisos somados sempre vão valer muito mais do que todo o pranto que eu derramei desde que você se foi. E sempre que eu penso nisso, vejo o quanto valeu a pena cada minuto que você esteve aqui.
          Sempre que o desespero me invade, eu questiono: por quê? Mas ninguém responde. Até agora também não fui capaz de responder. Então tento me acalmar, tento pensar que foi melhor assim, para o seu próprio bem. Se o melhor pra você foi partir, então que assim seja. Daqui eu torço de todo o meu coração que você esteja feliz, tão feliz quanto você era aqui. E que o seu sorriso cative tanto e tantos quanto cativou aqui.
          Esteja onde estiver, saiba que para sempre vou te amar.
          Assim como te amei desde o primeiro dia.
          Assim como te amei até o último.
Fernanda Salgado


Em memória de Vinícius de Oliveira Claro Borges. Uma criança que mudou a minha vida.



segunda-feira, 30 de junho de 2014

Foi assim



E aí, quando você disse que à partir de agora seria assim, meu peito se encheu de alegria como há tempos não acontecia, então eu soube que meus finais de semana já não seriam os mesmos.
E eu sabia que aquele seu sorriso era puramente sincero.
Foi assim que eu percebi que eu poderia ser mais feliz se eu dividisse a mesa do café com você aos domingos. Que meus pés ficariam mais quentes entrelaçados aos seus.
Foi aí que eu percebi que faria compras pensando no que você gosta de comer. Que eu passaria dias ansiosa pelo fim da semana e que eu usaria o dobro daquele creme que você gosta.
Foi então que eu descobri que você havia mesmo entrado na minha vida.
E foi assim que eu descobri que eu quero mesmo é ficar com você.

Fernanda Salgado

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Primavera



Essa brisa que toca meu rosto, nessa primavera está bem mais agradável.
Difere daquela ventania que me cegava e me deixava sem ar.
Essa é bem mais suave, refrescante e chega a ter cheiro. O cheiro das flores que tanto me agrada e que me faz sentir vontade de permanecer bem aqui.
Pois é nesse lugar que sinto o calor que me aconchega, o calor que não sufoca, apenas acalenta.
Para onde eu olho, há beleza. Cada pedacinho dessa primavera me encanta e me deixa feliz toda vez que me deparo com algo que eu ainda não conhecia. Pois essa estação é tão surpreendente que sempre trará algo novo. E tudo é sempre tão lindo...
E sempre que ela se vai, ela volta.
Sinto falta, mas espero ansiosamente até que ela chegue novamente me abraçando com sua brisa morna.
Ah... a Primavera.
Foi quando vi pela primeira vez aquele par de olhos castanhos. E sem querer, eu os quis.
Foi quando descobri que alguém carregava a beleza da Primavera.
Desde então, sempre que chega esse alguém, ele traz consigo a Primavera, pois ele é exatamente como ela.
E desde então, há Primavera em qualquer estação do ano. Ao menos para mim.
Pois ele é minha Primavera.
Ao menos para mim.

Fernanda Salgado.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Um dia perfeito

    

       Estávamos no carro naquele dia lindo e bem quente, exatamente como gostamos. No banco de trás, nossas malas, nossos travesseiros e uma coberta que provavelmente não usaríamos. No rádio uma música que fazia lembrar de quando nos conhecemos.
    Ele dirigia com um sorriso no rosto e com uma calma de que quem não tem pressa para que o dia acabe.
Agora sim seus óculos escuros o deixava ainda mais charmoso, e o vento quente que entrava pelas janelas abertas despenteava seus cabelos divertidamente.
    Eu sabia que a viagem seria longa, mas não me preocupava, pois ainda era manhã e o sol brilhante mostrava toda a paisagem encantadora que nos cercava.
    Ele ainda me contava algumas de suas divertidas histórias e muitas vezes relembrava algumas em que eu estava presente. A partir de agora eu também  faria parte das suas histórias, e estava contente com isso. 
    Ao chegar no local planejado, me deparei com aquele mar azul claro, a areia bem alva e fina, e o sol ainda estava ali, clareando todo aquele céu azul que nos cobria.
    Nos banhamos naquelas águas cristalinas, confidenciamos segredos na sombra de uma árvore e fizemos promessas olhando o sol se pôr em um céu escarlate. Até que a noite caiu.
    Ele me conduziu até uma clareira no topo de uma montanha, onde era possível observar milhões de estrelas no céu e, por vezes, algumas estrelas cadentes. Eu deitada em seu peito, contemplava um céu jamais visto em nossa cidade, enquanto ouvia musicalmente as batidas do seu coração.
    Em um momento tão utópico, ele me deu o que faltava. Um beijo.
    Foi nessa hora que acordei.
    Olhei ao meu redor e o procurei sem resultado. Percebi as paredes de concreto e o cheiro característico de uma cidade urbana. O relógio ainda despertava e eu, um tanto confusa, o fiz parar de tocar. O seu óculos não estava no criado mudo, nem o seu chinelo na beira da cama. Só então percebi o que havia acontecido.
    Me levantei, me arrumei e fui para o trabalho arrastando os pés. 
    Foi um lindo sonho, quis contar a ele.
    Pena que ele não está mais aqui.

Fernanda Salgado

Em você, não mudo nada.

       
          Se eu fosse escolher pela aparência, ah... não seria você.
    Pois aquela camiseta velha e com um furo no ombro nunca foi a mais sensual. Até aquele seu jeans surrado que você insiste em usar mesmo estando grande demais, não é dos mais atraentes. E se eu for falar do cabelo, quase sempre bagunçado.
    Mas não, não foi isso que me atraiu.
    O que me atrai é o que está debaixo disso, debaixo também dessa armadura que você veste por insegurança. É a personalidade, é o instinto protetor, a coragem, a inocência... E debaixo desse cabelo bagunçado, a mente genial.
    Depois que vi esse interior, te vi diferente, passei a te admirar. E logo, quando percebeu tal admiração, notei que trocou a camiseta velha por outra mais nova, que passou a usar cintos, calças do seu número e cortou os cabelos.
    Achei graça.
    Pois eu confesso que passei a gostar daquela camiseta com o furinho e até senti falta de te ver arrumar o jeans caindo.
    Pode saber, meu bem, que se te escolhi é pelo que tu és e digo mais, eu não mudaria nada em ti. Nem a velha camiseta, nem o jeans surrado, nem mesmo o cabelo bagunçado, que é, na verdade, o penteado que eu mais gosto.

Fernanda Salgado

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Saudade sua



   Desde que você se foi, o tempo não quer mais passar. Parece que depois de você tudo perdeu a graça e os dias passam arrastados.
   Ah, se eu pudesse escolher... Eu acordaria às cinco da manhã outras mil vezes só para acordar do seu lado. Te observar se arrumando para a faculdade seria o meu maior hobbie.
   Se você estivesse aqui, eu usaria mais vezes o meu cabelo de lado, eu faria aquela comida que te prometi e usaria aquele perfume que você adora.
   E se eu estivesse aí, eu não ligaria de arrumar o tapete todas as vezes que você bagunçasse, eu aprenderia uma música nova só pra cantar com você e faria uma massagem pra você dormir.
   Me pego às vezes olhando nossa fotos, lembrando dos seus olhos, que eu garanto, têm uma cor maravilhosamente incomum. Sinto uma leve nostalgia quando lembro do seu cheiro, do seu olhar concentrado ao usar o computador e do seu sorriso, que tinha o poder de me deixar feliz.
   Te asseguro que não sofro, mas diariamente lembro-me daqueles dias com carinho, o mesmo carinho que sinto por ti, uma pessoa com quem eu não sei esbravejar.
   Por curiosidade, eu ainda me pergunto, por quanto tempo ainda ficou o meu cheiro naquela tua camiseta? Me pergunto, quantas vezes você encontrou um fio de cabelo meu no seu travesseiro e se lembrou de mim? O que será que você fez com as  nossas fotos? E o que será que você fez comigo, aí dentro, no mais profundo sigilo, dentro de você?
Fernanda Salgado